É possível criar espaços que conectam os benefícios da natureza à saúde física e emocional
O design de interiores nunca foi tão além da estética. Hoje, conceitos como biofilia e neuroarquitetura estão mudando a forma como enxergamos os espaços. Mais do que bonitos, os ambientes agora precisam ser funcionais, acolhedores e, principalmente, conectados à natureza e às nossas emoções. É uma nova era no design, na qual cada detalhe conta para criar harmonia entre mente, corpo e ambiente.
“Quando aliamos a biofilia e a neuroarquitetura, campos emergentes que estão revolucionando o design arquitetônico, criamos ambientes que conectam os benefícios da natureza à saúde física e emocional. Assim, podemos visualizar e vivenciar os projetos de maneira diferente, a partir de princípios neurocientíficos”, explica a arquiteta Mariana Meneghisso, uma das sócias do escritório Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.
Conceito de biofilia
Para entender melhor, Mariana Meneghisso começa pelo conceito da biofilia, derivado do grego “amor à vida”, que sugere que os seres humanos possuem uma conexão inata com a natureza. “Ou seja, cada um de nós tem uma conexão individual com o meio ambiente”, continua. Um dos principais conceitos do campo é a incorporação de elementos naturais nos ambientes construídos, isso pode incluir o uso de plantas, água, luz natural, materiais orgânicos, formas orgânicas que remetem a desenhos naturais e vistas para a natureza.
“Entre as premissas fundamentais da biofilia, não podemos deixar de evidenciar que a biofilia genuína está diretamente associada à responsabilidade do uso de materiais”, conta Mariana Meneghisso, que lembra ainda sobre a réplica das formas, relevos e elementos naturais no desenho e estética dos projetos. “Ter impresso essas linhas e expressões da natureza, sem necessariamente ter uma planta em casa, é um viés rico e essencial na biofilia”, completa.
Conceito de neuroarquitetura
A neuroarquitetura busca compreender como os espaços impactam nossas emoções e comportamentos. “Temos estudos comprovados em todos os lugares do mundo que revelam como os ambientes bem projetados podem estimular criatividade, concentração ou relaxamento”, ressalta Mariana Meneghisso. “Desde elementos como pé-direito alto, escolha da paleta de cores e uso de texturas podem ajudar a criar um equilíbrio entre funcionalidade e conforto”, completa Alexandre Pasquotto.
Quando relacionados, os campos trabalham em conjunto, unindo o instinto humano de conexão com a natureza aos estudos científicos que exploram como os espaços impactam o cérebro e as emoções. Essa união também é apoiada por estudos científicos: em 2022, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) investigou os impactos dos espaços verdes em áreas urbanas no bem-estar psicológico dos moradores e concluiu que a presença de áreas arborizadas reduz positivamente os níveis de estresse e melhora a qualidade de vida.
A neuroarquitetura, ainda, explora como o layout dos espaços, a geometria e até os sons de um ambiente projetado com base na biofilia podem estimular áreas específicas do cérebro, incentivando criatividade em um escritório, relaxamento em uma sala de estar ou foco em um espaço de leitura.
“Juntos, esses conceitos oferecem uma abordagem holística ao design, criando ambientes que não apenas atendem às necessidades funcionais, mas também nutrem a conexão emocional e física das pessoas com o espaço que habitam”, diz a arquiteta Mariana Meneghisso, especialista em neuroarquitetura da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.
Elementos naturais no design de interiores
Sem falar apenas de plantas na decoração, a inclusão de outros elementos naturais no projeto de interiores passou a abranger soluções criativas que transformam os ambientes em espaços de conexão com a natureza. Uma dessas soluções é o jardim vertical, que permite incorporar vegetação até mesmo em espaços reduzidos.
Instalados em paredes, eles se tornam o ponto focal do ambiente, além de ajudar a purificar o ar e melhorar a acústica. “Outra opção é o jardim de inverno, um espaço interno dedicado exclusivamente à vegetação, que pode incluir fontes de água e pedras naturais, criando um refúgio de tranquilidade dentro do lar”, complementa Alexandre Pasquotto.
Materiais orgânicos também são fundamentais nesse tipo de design. Tecidos naturais, como linho, algodão, juta e bambu, oferecem um toque de leveza e conforto aos espaços. Eles podem estar em cortinas, estofados e tapetes, adicionando um charme artesanal e sustentável. Além disso, o uso de madeira de reflorestamento em móveis e acabamentos traz sofisticação ao projeto, enquanto reforça o compromisso com práticas ambientalmente responsáveis.
Conceitos abertos
Os conceitos abertos são outra forma de integrar a natureza aos interiores. Ao eliminar barreiras físicas entre os cômodos, esses espaços permitem uma melhor entrada de luz natural e maior ventilação cruzada. A presença de janelas amplas ou claraboias potencializa a iluminação natural, conectando o interior ao ritmo do dia e reduzindo a necessidade de iluminação artificial. Além disso, o uso de pedras naturais, como mármore, granito ou quartzito, em bancadas, pisos ou paredes, adiciona texturas orgânicas e durabilidade, equilibrando funcionalidade e beleza.
A presença da água em elementos como fontes decorativas ou espelhos d’água não só enriquece o ambiente esteticamente, mas também promove relaxamento e auxilia na regulação da umidade. Para completar, o uso de materiais rústicos, como palha e vime, em móveis ou peças decorativas, reforça a conexão com a natureza, proporcionando uma estética acolhedora e rústica.
Plantas para cada ambiente
Agora, para quem pretende adotar as plantinhas nos ambientes, confira algumas sugestões do escritório Meneghisso & Pasquotto Arquitetura:
- Hall: uma espada-de-são-jorge, além de afastar maldade, pode representar coragem e ser acolhedor para receber as pessoas no local de entrada e saída da residência;
- Estar ou living: espécies como fícus lyrata, costela-de-adão e zamioculcas criam um ponto de destaque e requerem pouca manutenção. Samambaias e marantas também são ótimas opções para trazer movimento e textura ao ambiente;
- Quarto: lavanda e jasmim são flores conhecidas por seus efeitos calmantes e podem melhorar a qualidade do sono, purificar o ar e manter um ambiente relaxante;
- Cozinha: hortelã, alecrim, manjericão e cebolinha são funcionais e perfumam o espaço. “Você pode cultivar uma pequena horta em vasos, calhas úmidas ou jardineiras para ter sempre um tempero à mão”, completa Mariana Meneghisso;
- Home office: suculentas, cactos, fitônias e peperômias são de fácil manutenção e ideais para reduzir o estresse. A inclusão de bonsais também traz um toque sofisticado ao ambiente de trabalho;
- Varanda: para áreas externas, opte por espécies como a primavera, jasmim-trepador e lavanda, que adicionam fragrância e cor. Em varandas cobertas, antúrios, pacovás e filodendros podem ser usados para criar um pequeno jardim tropical.
Mas a arquiteta Mariana Meneghisso alerta: cada planta exige cuidados, como rega, ventilação, iluminação e poda, conforme cada espécie. “A frequência de rega depende do clima e do tipo de planta, algumas precisam de solo sempre úmido, enquanto outras demandam menos água. Além disso, é preciso posicionar as plantas em locais com a quantidade adequada de luz solar ou sombra. A poda regular ajuda a manter o formato e a estimular o crescimento saudável”, destaca a arquiteta.
A tecnologia também tem um papel na neuroarquitetura e na biofilia. Sistemas de controle de iluminação, som e temperatura podem ser ajustados para criar ambientes que respondem às conveniências dos moradores.
Por Danilo Costa